Se esta história é real ou não ... deixo a critério de quem ler.
"Certa vez, uma senhora veio nos procurar para comprar um Kuromatsu para decorar seu estabelecimento comercial. Olha aqui, olha lá, e acaba por escolher um exemplar com cerca de 40 anos,e um trabalho de poda e modelagem que consumiu pelo menos 1000 horas, se tivesse sido feito de forma ininterrupta. Como sempre, orientamos essa pessoa a cerca dos cuidados que devem ser tomados ao transplantar uma planta. ´Olha, minha senhora... você precisa fazer assim, não esqueça disso e daquilo também. Conversa vai, conversa vem... e: Opa! Peraí... Ambiente fechado não pode! De jeito nenhum! Ar-condicionado também não pode! Isso também não... (...) .Olha, nessas condições não temos como garantir que ele sobreviva!´
Para nossa surpresa, a resposta dela foi: Não tem problema! O importante é que ela fique viva durante 1 mês, que é o tempo que dura o evento."
É a era do descartável. Em todos os aspectos, a velocidade é o que conta: meu Dell que só tem 1 ano já está ficando ultrapassado. Perder tempo lavando louça? Pra que? É só derrubar outra árvore, pegar a celulose e fazer mais copos descartáveis, e uns lenços de limpeza também, pq hoje em dia, pano de chão também tem que ser descartável.
Pratos, talheres, roupas, música, pessoas, relacionamentos e plantas. Tudo é descartável.
Conheço um grande número de pessoas que não tem paciência para ouvir Chico Buarque ou Lenine.
É bem mais fácil e economiza neurônio ouvir
"Nossa, nossa... assim vc me mata...".
Não sou contra o descartável. Eu também uso vários itens (e acho lenço de papel a invenção mais higiênica do mundo!) E nem me considero uma pessoa sensível assim. Não faço parte do movimento Greenpeace, sem querer ajudo a poluir o mundo com monóxido de carbono e não consigo deixar de comer carne embora eu ache que os vegetarianos tenham razão. Nunca deixei de chupar laranja por que ela não é orgânica, nunca participei de mutirão de arvorismo, tampouco sinto pena de plantas de corte, como rosas. Infelizmente elas nasceram pra enfeitar, tem o ciclo de vida curto e tchau. O importante é que a planta continua lá... firme e forte continuando a produzir mais e mais rosas.
Mas às vezes eu sinto dó de algumas plantas. Acho que dó nem seja a palavra certa, talvez desperdício seja mais adequado. Por exemplo: a grama e algumas outras plantinhas usadas em cenários de eventos e comerciais, muitas vezes saem do set diretamente para o lixo, se não houver uma boa alma que resolva levá-las para casa.
Vários produtores de plantas muito requisitadas no paisagismo como o buxinho, nem sangram esses arbustos, porque essa prática é dispendiosa, e encarece demais pra quem produz de modo industrial. Se a planta vai sobreviver? Quem se importa? É muito mais fácil e lucrativo produzir plantas descartáveis.
E aí voltando a historinha da senhora e o Kuromatsu, eu fico pensando... como assim, não tem problema se ele morrer? E os 40 anos de trabalho despendidos? Será que tudo pode ser resumido a: "
Dane-se... É só uma planta mesmo. Quem mandou ser tão lerda pra crescer?"
Esse é o tipo de atitude que me sensibiliza. Talvez eu esteja levando em conta o apego emocional pelo fato dos Kuromatsus estarem presentes na minha família desde que eu me conheça por gente. Talvez a errada seja eu, que às vezes não me adequo ao pensamento da sociedade moderna. Ou talvez, não.
Quem sabe, os bonsaístas entendam esse meu sentimento? Enquanto o mundo atual nos cobra pressa, rapidez, produtividade... o bonsai exige calma, espera, perseverança. Não adianta pagar, gritar, xingar e exigir que fique pronto logo, pois ele tem seu próprio tempo.
Uma das melhores lembranças da minha vida, era de quando eu era criança e meu avô me levava para a roça. Eu sempre pegava a tesoura e ele deixava podar alguns dos seus valiosos pinheirinhos. É lógico que eu devia picotar tudo e fazer o maior estrago, mas ele sempre dizia: Nossa! Como vc é talentosa! Ficou muito lindo!
Hoje eu entendo que o velho Nagao tinha a sabedoria para entender que poderia até demorar, mas o TEMPO o ajudaria a consertar a minha "arte".
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o "coisa fofa" passeando na plantação de Kuromatsu lá no sítio |